Como é a travessia pelo Deserto do Sinai, no Egito
Já fiz a Travessia do Deserto do Sinai – que vai do Cairo (capital do Egito) a Eilat (cidade ao sul de Israel) – seis vezes. A primeira foi em 1999 e a última, neste mês.
Na primeira oportunidade, há 20 anos, fomos eu e minha grande amiga Cassiana, jornalista e escritora do blog Aos 4 Ventos. Nós duas, xóvenzinhas viajando por conta, sem internet, celular ou dicas de blogs de viagem. 😀
Naquela época já dei por encerrados os meus sonhos de viagem. Foi uma profunda realização. Aqui, Moisés — aquele que vagou com o povo hebreu por 40 anos no deserto — recebeu os 10 Mandamentos, a Lei de Deus.
Depois da minha estreia no montanhismo (cof cof) há quase duas décadas, já voltei para cá em mais de meia dúzia de oportunidades. Subi o monte novamente há dois anos, quando vim como peregrina com a Sacratour que, sem dúvida alguma, é uma das agências brasileiras mais preparadas para esta travessia! Veja aqui o relato da minha viagem e peregrinação por Egito, Israel e Palestina.
(Hoje, Deus me permite colocar os pés nesta Terra Santa liderando grupos de peregrinos para a mesma empresa! Se isso não for missão divina, não sei qual nome dar!) #mãozinhadeamém
ATRAVESSANDO O DESERTO DO SINAI
Saímos cedo do Cairo e pegamos a estrada em direção ao deserto que corta a Península do Sinai. Só para efeitos históricos, a península esteve ocupada pelas forças israelenses durante a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967. Foi devolvida ao Egito em 1982, quando os dois países celebraram o tratado de paz.
A distância do Cairo até a cidade de Saint Catherine, que fica aos pés do Monte Sinai, é de quase 500 km feitos entre seis e oito horas. Neste trecho, vamos com um segurança armado dentro do ônibus. É uma exigência do governo egípcio quando estamos em grupos com mais de 20 pessoas. O veículo também é escoltado do começo ao fim.
Existem dezenas de barreiras policiais durante o caminho. Somos parados em todas. A fiscalização é rotineira e qualquer pessoa que fizer esse trajeto será abordado. Há indícios de que há focos do Estado Islâmico na Península do Sinai, mas ninguém sabe onde.
Meu grupo é de peregrinos cristãos, vertente religiosa atualmente perseguida por radicais no Egito. Mas isso não é sinal de alarde, apenas precaução. Ônibus de sacoleiros brasileiros que vão ao Paraguai, por exemplo, também saem com escolta. O cuidado é justamente para inibir uma ofensiva indesejada numa região historicamente disputada.
A estrada é ótima, tem poucas curvas acentuadas e quase nada de veículos… tanto indo quanto vindo! A paisagem árida oscila entre tons beges, terrosos e, eventualmente, aparecem camelos e algum oásis verde com plantações de tamareiras. O fio azul do Mar Vermelho lá ao fundo dá as caras de tempos em tempos.
Atravessamos o Canal de Suez — que liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho — até chegar à cidade de Mara. Neste vilarejo beduíno, segundo a narrativa bíblica, Moisés transformou a água amarga em água doce, matando a sede do povo que ele havia libertado da escravidão no Egito.
Os poços que datam do provável período em que Moisés passou pelo deserto ainda estão aqui, ao lado de uma praia maravilhosa no Mar Vermelho (aquele mesmo que seria aberto para facilitar a fuga dos israelitas).
Durante a viagem há poucos lugares para paradas como restaurantes ou lanchonetes. Ao final da travessia desta primeira parte do deserto, chegamos à cidade de Saint Catherine (Santa Catarina), lugar de hospedagem e base para subir o Monte Sinai. Segundo o Antigo Testamento, foi aqui que Moisés, recebeu a tábua dos 10 Mandamentos.
Desta vez ficamos hospedados no Mosteiro de Santa Catarina de Alexandria. Construído aos pés do Monte Sinai no século 6 d.C. pelo imperador bizantino Justianiano I, o local abriga a sarça ardente, o arbusto que na Bíblia ardia em chamas, mas não era consumido por elas.
O Mosteiro de Santa Catarina é o mais antigo mosteiro cristão em funcionamento! A sarça ardente é o local onde Moisés foi convocado por Deus para liderar os israelitas do Egito em direção à Terra Prometida. A planta (que eu aponto na foto) não nasce em nenhum outro lugar da península, somente aqui! <3
COMO É A SUBIDA NO MONTE SINAI
A subida ao Monte Sinai (2285 metros de altura) acontece de madrugada por conta do calor impraticável do deserto durante o dia, a temperatura pode passar dos 40ºC.
O percurso começa entre meia-noite e duas da manhã. A caminhada (bastante íngreme e pouco recomendada para sedentários) dura de duas a quatro horas morro acima!
Na entrada do monte, há uma rigorosa revista de mochilas e todos são obrigados a passar por detector de metal. A subida ao Sinai não é obrigatória durante a peregrinação. Sobe quem quer e estiver preparado fisicamente! Uma vez lá em cima, é esperar o belíssimo nascer do sol!
É possível subir caminhando ou de camelo (US$ 25 por pessoa). Faz muuuuuito frio à noite no deserto. Desta vez pegamos -1ºC na madrugada. Durante o trekking você encontra uma ou duas tendas de beduínos que vendem café, chá e salgadinhos industrializados. Leve água!
No retorno do Monte Sinai, os peregrinos voltam para o hotel, onde tomam banho e café. Em seguida, pegamos a rodovia St Katherine-Nuweibaa Road e seguimos para a cidade de Taba, ainda no Egito, mas já bem próximos da fronteira com Israel. De Saint Catherine até Taba são 180 quilômetros, o que dão mais umas 2h30 de viagem.
Ao chegar a Taba, descansamos num hotel maravilhoso à beira do Mar Vermelho (porque nossa vida não é só comer poeira) para enfrentar a passagem para Israel no dia seguinte.
Boa parte do Mar Vermelho é excelente para mergulho. Existem muitos resorts pé na areia, principalmente no trecho mais próximo a Taba, Dahab e Sharm el-Sheikh, cidades famosas entre os turistas que visitam o Egito.
COMO É CRUZAR A FRONTEIRA TERRESTRE DO EGITO PARA ISRAEL
Nós cruzamos a fronteira terrestre de Taba (Egito) para Eilat (Israel) caminhando. Como sou a líder do grupo, vou na frente, explico para a imigração sobre a viagem, eles fazem muuuitas perguntas como qual o propósito da peregrinação, sobre minha religião, quais cidades vamos visitar em Israel e Palestina, porque passamos primeiro pelo Egito, etc, etc…
Vamos passando, um a um. Já levei grupos da Sacratour com 35 peregrinos, imagine!!! É completamente proibido tirar fotos deste trecho fronteiriço sob pena de perder o celular, a máquina e até ser preso.
Depois de passar pela imigração e apresentar o passaporte várias vezes para pessoas diferentes entramos no setor de raio-x. Eu sempre sou revistada, abrem minha mala, me levam para uma salinha especial e tals. O grupo inteiro passa e eu fico. Sempre.
Mas tudo é feito com calma e educação. Nunca peguei nenhum agente grosseiro, nem mesmo antipático. Eles sempre me dizem “isso também é para sua segurança”.
Tudo isso para responder a pergunta que vocês mais me fazem no direct do Instagram: não, dear, a Travessia do Deserto do Sinai não é passeio europeu básico como se estivéssemos transitando entre Paris e Versalhes.
O trajeto é seguro, mas costuma ser tenso, sim. Não recomendo fazer por conta própria de jeito nenhum, assim de alugar um carro e sair a deus-dará pelo Sinai. Eu não sei nem se alguém fizer isso passa da primeira barreira.
Caso você tenha o sonho de percorrer o deserto (e subir no Monte Sinai) procure uma empresa especializada. Tirando minha estreia em 1999, todas as outras vezes em que estive aqui vim com a Sacratour (primeiro como peregrina, depois liderando grupos para eles).
Se for o caso, contrate no Egito mesmo alguma empresa especializada no roteiro, principalmente as que cumpram as regras de segurança do governo egípcio para fazer a travessia!
É uma viagem única no mundo, cheia de significados para a história e fundamental para as três maiores religiões monoteístas do mundo como o cristianismo, o islamismo e o judaísmo.
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E ainda
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Fotos: Sílvia Oliveira | Todos os direitos reservados ©
Oi, Silvia. Tudo bem? 🙂
Seu post foi selecionado para o #linkódromo, do Viaje na Viagem.
Dá uma olhada em http://www.viajenaviagem.com
Até mais,
Bóia – Natalie
U-hu! Obrigadão! =D
Olá Sílvia, dá para sentir bem a diferença nessas viagens de há 20 anos (viajar apenas pelo prazer de viajar) e as de agora (com o trabalho no blog), não é? Penso muitas vezes nisso…
Sim, já até entrei em crise por causa disso! Hahahaha! Mas tenho tentado equilibrar as duas coisas! Bjs!
Sério? Então acho que vais gostar de ler um texto que escrevi no ano passado intitulado Ser blogger nos dias de hoje. Ora vê… 🙂
Grande abraço.
Ola, quantos dias dura isso tudo ai? E o valor?
Oi, Ricardo! É um dia para a travessia, uma madrugada para subir o Monte Sinai, mais um dia (ou mais) num resort à beira do Mar Vermelho! Esta travessia está incluída num pacote para a Terra Santa (Egito + Israel). Sugiro que você consulte valores atualizados com a empresa que fez o trajeto http://www.sacratour.com.br Abraço!
Olá Silvia, boa tarde!
Você já tem alguma viagem prevista para 2020, como guia?
Procurei na empresa Sacratour, não encontrei.
Obrigada!!
Olá, Ana! No site da Sacratour (www.sacratour.com.br) tem todas as saídas do ano que vem, mas ainda não decidi qual grupo vou levar, minha disponibilidade no ano que vem tá um pouco mais apertada. Mas na semana que vem já deve sair a minha grade de viagens para 2020. Será um prazer viajar com você! Abraço!
Vc fala que atravessou o canal de Suez en passant, como se fôra nada. Eu tenho a maior curiosidade como se vai de um lado ao outro. Já tentei de tudo para saber como os panamenhos fazem para atravessar, sem sucesso. Ninguém acha interessante. Pena…
O Canal de Suez fica no Egito. Acho que você confundiu com o Canal do Panamá. Diferente do Canal do Panamá, o Canal de Suez não possui eclusas por causa da ausência de desníveis e diferenças quanto ao nível do mar. Por isso é en passant mesmo, a gente atravessa uma ponte normal de um lado para o outro. 😀