O andar da gastronomia regional
Aprendo a viajar melhor ano após ano. Descobri que não preciso derriçar uma capital em dois dias – nem a Europa em 30. Avancei duas casas quando me dei conta de que não é mandatório ficar à base de pão, água (de torneira) e Mc Donald’s para chamar uma viagem de muquirana. Porque pobre-pé-rapado é quem sai de férias e não se dá o direito de ser feliz. Seja gastando muito ou pouco.
Meu desafio tem sido identificar o que realmente é importante para mim quando faço as malas. Mais do que visitar pontos turísticos interessantes – muitas vezes chamados erroneamente de obrigatórios na bíblia de alguns viajantes – eu busco experiências gastronômicas regionais. Se eu tirar uma foto no centro histórico de Olinda, por exemplo, vou poder me lembrar por muito tempo do resultado. Mas não do processo. Fica a lembrança. Nem sempre a consequência.
Já observar o preparo de uma tapioca chamejante, recheada cuidadosamente com queijo coalho e coco ralado e, em seguida, saborear o quitute – que alterna um leve crocante com recheio cremoso – marca para sempre sua história de viagem. Concordo: às vezes, o efeito da experiência não só provoca uma “consequência” na sua biografia, mas se torna quase uma sequela. Na primeira e única vez que provei uma buchada de bode, há poucas semanas em Maceió, tive um revertério. Passei o dia seguinte – forçada – comendo maçã.
É que experiências gastronômicas regionais exigem um caminho, um método, alguma técnica, um pouco de ginga. Arte. Principalmente reverência. Pode ser num restaurante sofisticado ou num bar pé-sujo. No café do museu ou à beira-mar. Vai do milho cozido ao caldinho de sururu, da moqueca capixaba ao acarajé baiano, do sanduíche de tucumã manauara ao bolinho de macaxeira potiguar, do sarapatel ao barreado paranaense, do arroz com pequi goiano ao pão de queijo mineiro. Sem esquecer a pizza de coração gaúcha! Tão tradicional quanto as ostras de Floripa.
Falamos de uma espécie de patrimônio imaterial. Uma relação delicada entre viajante e destino. O que eu chamo, meramente, de profunda amizade: ambos – cada um a seu modo – se afinam, modestos e despretensiosos, para recriar as condições adequadas que ajudam a perpetuar o sabor de cada lugar.
Foto: Bolinho de Macaxeira, em Natal. (Matraca’s Image Bank)
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Texto originalmente publicado na minha coluna “Viagens Econômicas e Inteligentes”, que sai toda semana no portal Descubra Brasil.
Deu fome! Adorei o texto… uma reverencia ao NOSSO!
Sim, ao NOSSO patrimônio! 😀
Ai, Silvia… A foto desse bolinho parece até que tem cheiro! 😀
Pode xingar… eu também sofro quando olho para ele!
Olá Silvia, adorei o post. Mas aguardo ansiosa suas impressões sobre Manaus. Vai rolar?
Abraço
Gisele
Vai, sim, Gisele! Estou mudando de servidor… e não posso ficar enchendo de posts com fotos, por enquanto! Mas ainda falta quase tudo da Expedição Brasil Express (Natal, Maceió, Inhotim, Recife… etc, etc…) Abs!
Ai, Sílvia! Não vejo a hora de ir a Natal para comer esse bolinho de macaxeira aí da foto! 😉
Um cheiro!
Vai e depois me conta, viu? 🙂
Pode deixar que na volta eu te conto! 🙂
Beijão