Meu primeiro mochilão pela Europa | Parte 3
Na cidade italiana dos canais eu também comprei aquelas bolsas cafonas escrito “Venezia”.
O roteiro foi definido assim: abrimos o mapa da Europa e assinalamos algumas capitais de interesse. Entrou no trajeto tudo o que estivesse ali por perto até onde alcançasse nosso passe de trem.
Não me lembro exatamente como foi o processo de (não) pesquisa para a viagem. Sei que embarquei com um guia Frommers “Europa a US$ 50 por dia” – uma tremenda referência na época para as viagens muquiranas.
Internet??? Ziiifio, até existia, muito tímida… mas, para mim, isso era coisa dos Jetsons!
Fotos com flagras programadas: olhando o horizonte em Edimburgo, lendo o guia na praça em Londres… o instagram nasceu comigo! 😀
Eu não tinha e-mail e se já existia algum cyber por lá eu não vi nem entrei em nenhum. Mas passei por tooooodos os correios das principais capitais para mandar cartões postais para a família e para os amigos.
Não, disso não tenho vergonha. E, sim, saudades! Uma prática simpática que se perdeu com os “avanços tecnológicos”.
Mesmo com um itinerário apertado para percorrer em 30 dias, chegando lá seguimos com nossos “insights brilhantes” (muitas aspas aí) e fomos acrescentando alguns destinos no meio do caminho.
A Escócia, por exemplo, não estava prevista. Mas ao colocar os pés em Londres… o país vizinho parecia tão perto. Fomos para lá!
Ponto positivo: nem todo mundo inclui a Escócia numa primeira viagem à Europa. Ponto negativo: como tínhamos a infeliz noção de apenas “ticar” um destino dedicamos apenas um dia e meio à lindíssima capital, Edimburgo.
Na Escócia: poucos colocam esse lindo país numa primeira viagem à Europa. (Manja só a calça tipo bag!)
Sei, você em pleno século 21, com toda essa parafernália de informação disponível, também abre o mapa e, assim, inclui Luxemburgo só porque ele está ali, grudado com a França.
Ou quem sabe pensa em dar uma esticadinha até a Polônia, afinal o país fica encostado na Alemanha. Veja, não há nada de errado em aproveitar a proximidade das fronteiras, desde que os viajantes tenham tempo – muito tempo – e dinheiro para isso.
Para encurtar a história, de Barcelona fomos direto para Roma, uma viagem de trem que durou mais de 24 horas, incluindo duas paradas “estratégicas” de algumas horas – uma em Toulouse e outra em Nice – para “conhecer” as famosas cidades da Riviera Francesa. (Emoji revirando o zoinho!)
A essa altura a super mala de nylon já havia estourado dois zíperes e um rasgo enooorme deixava parte da roupa aparente. Meu nécessaire – que a gente chamava de “mala de mão”, feito de pano (nem nylon era) – também pediu arrego.
Alguma coisa certa: a doleira, aquelas pochetes/bolsinhas que são feitas para usar debaixo da roupa e guardar dinheiro e documentos
Aquilo começou a me incomodar profundamente. Sabe quando a ficha vai caindo, você vai se dando conta de uma situação insólita criada por você mesmo?
Para onde quer que eu olhava os viajantes “normais” ou levavam um tradicional mochilão nas costas ou domesticadas malas de rodinhas. Assim, simples.
Tá, tenhamos compaixão. O Matraqueando – o brogue daquela moça que vai antes para você não se estrepar depois – ainda não existia. O livro Viaje na Viagem do Ricardo Freire – que mostrava “o caminho, a verdade e a vida” para o turista ainda estava no prelo.
Eu tinha 23 anos e – capítulo à parte – no inglês só arriscava “Where is the McDonald’s?”
Mas de repente, não mais do que de repente, na nossa penúltima parada, Atenas, começou a brotar no meu limitado cérebro o genoma matraquenho.
Momento catarse: bolsão de nylon indo pro lixo sem direito à extrema unção.
Absolutamente cansada e estressada com meu carrinho de feira ambulante, entrei na primeira loja da capital grega que vendia malas. Era uma loja bonita, sofisticada e à disposição uma única marca: uma tal de Samsonite – da qual eu jamais havia escutado falar. (Sabe aquele emoji de choro desesperado. Pode incluir aqui.)
Levei a mais barata, que me custou… US$ 300 (trezentos dólares!) no cartão de crédito. (Ô saudade daquela mala de trezentos reais que eu não quis comprar no Brasil, sua mão-de-vaca-muquirana da peste!)
Observe: no latão está escrito “lixeira” em grego
Mas a compra em si foi apenas o primeiro passo na minha evolução espiritual como viajante. Como numa catarse, esconjurei o bolsão de nylon sem direito a extrema unção.
Terminei de destruir e afundar o dito cujo na primeira lixeira grega que vi pela frente. Nascia a Matraca – um ser desengonçado e falante – que ao melhor estilo Scarlett O’Hara jurou nunca mais ir para a Europa com um carrinho de feira a bordo!
Veja abaixo os primeiros capítulos da série que explica a evolução da Matraca Sapiens:
Meu primeiro mochilão pela Europa | Parte 1
Meu primeiro mochilão pela Europa | Parte 2
Leia também:
10 coisas que aprendi viajando
10 coisas que você não sabia sobre a Matraca
O mundo acabando e você aí, falando de viagens?
Ofício de blogueira versus espírito de viajante: como manter um sem acabar com o outro
Sílvia Oliveira, a moça do tempo
Por favor, deixem o turista em paz!
O que se aprende com uma viagem
Os sete pecados capitais do turista
Fotos | Arquivo pessoal | Todos os direitos reservados.
O melhor de tudo a sequência de fotos da destruição da mala de nylon heheheh estilo aueles novelas que acompanhavam antigamente as revistas, lembra?!
beijos
Hahaha, fotonovela!!! Por que não pensei nisso antes! Deveria ter colocado uns “balõezinhos” na foto para ilustrar o que passava na minha cabeça ao mirar o horizonte…
Pô, Silvia! De mochila de nylon a mala Samsonite?
Evolui rápido, hein? rsrs
Menino, e é uma mala que está novíssima até hoje (atualmente está com minha mãe), mas ela viajou comigo pro Egito, pra Israel, Turquia… e voltava inteirinha!
Olá Silvia,
planejando minha primeira viagem sozinha a europa descobri você e sua matraca…morrendo de rir e me preparando para pagar alguns micos…parabéns pelo blog e pelo senso de humor!!!
Marisa, esteja aberta aos micos, porque por mais que a gente se prepare, sempre a gente paga algum! 🙂
Ahh estou preparada para todos. Imagine só, sem falar inglês e nem francês…Uma mineira em Londres e Paris..a saga!!! haja cara de pau!!! Vou contar depois pra fazer todos rirem comigo!! 🙂
abçs
Melhor que uma boa historia e ela ser bem contada…e está muito boa!!! Ainda mais com a despedida da mala…jogada no lixo!!! Sensacional!!!!
Super concordo!! O jeito da Silvia contar a história foi o melhor!!
As fotos são ótimas. Me diverti demais.
Muito bom, Silvia!!! E viva o nascimento da Matraca!! Todo mundo tem que passar por um parto pra nascer né?! =D
Beijinho
Ahhh Já Acabou?!?! Adorei essa série super divertida!!! Nada Mal ir do bolsão de Nylon para uma mala Samsonite!! E que fim levou o carrinho?? rsrs
Bjks
Sabe que não lembro direito… mas deve ter ido pro lixo junto! Rá!
Tô rindo sozinha!!! amei o momento catarse registrado pelas fotos!
ORGULHO DE SER MATRAQUETE! Silvinha, fico até emocionada em saber que um dia você foi igual a gente!rsrsrsrs! Ainda chego lá!
ahahahhahaah… não consigo parar de rir…
Mas afinal, que fim deu o carrinho de feira?
Sabe que não me lembro… acho que foi pro lixo junto. Ele não incomodava tanto, até ajudou em muitas ocasiões… mas o bolsão de nylon…
E eu nunca mais na vida vou conseguir olhar pra um carrinho de feira sem me lembrar dessa história 🙂
Eu sou assim até hoje, Marcia! É trauma… hahahaha
Só faltou a foto da mala nova, né????….rsrsrs
Pois é… a mala existe até hoje, mas eu não tenho nenhuma foto da mala nova lá na Europa comigo! Uma pena…
Adorei o olhar assustado do cara que passava ao seu lado enquanto você exterminava o seu bolsão de nylon! Excelente!!!
Sou do tipo que adora aproveitar aquele momento “já que”, tipo, “já que estou em Londres, vou dar uma passada na Escócia também…” – Mas tb andei aprendendo que é preciso administrar o tempo. =)
Arrasou no mochilão e na catarse!!!!
E vc não tirou a foto com a Sansonite?
Naquela época a gente nem pensava em tirar foto de tudo, de eternizar momentos… essas que tenho foi por pura sorte… e não, não tenho foto da mala nova, apesar de que ela existe até hoje… está com minha mãe, novíssima! 😀
Ah, eu achei bonitinho! 😀
Muito legal o seu relato. Em outubro será minha vez, e sua série Europa 50 euros já me ajudou um bocado.
um abraço!
recordar é viver! adorei o relato…
e a calça jeans meio “santropeito”? 😉 rsrs
argh, preciso ir na Escocia ainda algum dia. muitos lugares, vida curta….
“Meio”? É inteiro santropeito! hahahahahahahaha!
Sílvia
Já sigo este blog faz tempo, mas não tinha deixado comentários ainda…eu acho…ou se o fiz, já faz muuuito tempo. É muito bom ouvir experiências de viagem e aprender com tantos amigos virtuais. Se tiver um tempinho passa pra me ‘visitar’…rs
Bacio
Se eu fosse voce patenteava a idéia de usar esse carrinho! Pra mão-de-vaca nenhum botar defeito! rsrsrsrs
Olá…
Parabéns pelo site, já está adicionado em minhas leituras…
Gostaria de convidar vc a visitar o meu também:
http://www.embarqueimediato.net
Abraços.
Menina…que blog é esse, heim???? Eu não tenho em palavras para descrever o quanto estou MARAVILHADO com suas palavras, impressões, moro no Recife e os posts que fez sobre a cidade ficaram fantásticos, estou de viagem para Gramado e tds as dicas consegui no seu blog, foi através desta viagem q encotrei teu site e não paro de ler…PARABÉNS!!!!!
(Eu diria que a calça é “santroqueixo”, rs…)
Sívila, esse post mudou minha vida, vou comprar uma mala boa.
Ao lê-lo, lembrei-me do meu primeiro mochilão para a Europa. Eu também usei uma bolsa de nylon (era uma falsificação barata da Nike, adquirida por aproximadamente R$ 35). Diferentemente de você, usei a bolsa nas costas, como se fosse um mochilão! Na metade da viagem, meus ombros e minhas costas já não aguentavam mais. Aí, novamente diferentemente de você, tomei uma decisão brilhante: lá na Irlanda, abandonei a bolsa falsificada da Nike e comprei um fantástico mochilão de 26 euros, contrariando o alerta do meu companheiro de viagem, que dizia que “por certas coisas valia a pena pagar mais caro”!! Aproximadamente 5 dias depois meu novo mochilão já estava todo arrebentado e rasgado.
Silvia, adorando seus relatos…
Nesse ano eu fiz pela primeira vez a viagem dos meus sonhos, NYC, super me identifiquei contigo fazendo peripécias e bobagens desnecessárias, que só os viajantes de primeira viagem (hehehe) fazem.
O importante é aprender com tudo né… e ter esse seu senso de humor incrível e ainda compartilhar =D
Desde que descobri o matraqueando, me divirto demais com as suas peripécias. 😉
Oi Silvia,
Que viagem, hein! A Escócia é um sonho ainda não realizado….
Ah, faria a mesma coisa com a mala!
Quando quiser ver um pouquinho de minhas viagens ( nada tão longe como as suas, he,he,he), dê um pulinho lá em:
http://www.biaviagemambiental.blogspot.com
Beijocas,
Bia
Silvia
Diverti-me imenso ao ler estes posts sobre a sua primeira viagem á Europa!Espero que esta “parte 3” não tenha sido o último porque na verdades estão muito engraçados e quero ver mais fotos com vc em frente a todos os monumentos importantes nos países por onde vc passou…hehe
Bjs
Ps: vou para a Escócia dentro de duas semanas…18 dias de viagem a começar em Edimburgo! Sempre achei que a Escócia merecia uma viagem só para ela,por isso nunca a incluí em outras viagens…depois conto tudo lá no meu Blog
Adorei o relato, Sílvia. Bom saber que até a inventora do Matraqueando também já pagou micos antes de chegar ao que é hoje. E também estou pensando em comprar uma mala decente, rs. Beijo.
Fiquei lendo o post, vendo as fotos e a única coisa que conseguia pensar era: O QUE É ESSA CABELEIRA????????
hahahahahahahahahahahahahaha….geeeeeente!
E aí? Vortei! Nem sei se te contei, mas vendemos tudo e voltamos pra Vitoria! Maior vida boa, menina!
Crendospadre, num sabia, não! Você vortô para Vitória… e aquele projeto maravilhoso do Sr. Garibaldi???? Quando der me mande um e-mail contando suas peripécias… Bjs!
Vendo suas fotos fiquei pensando em como era mais fácil ficar bonita na década de 90, quando a gente tinha vinte e poucos anos e os padrões fashion eram bem menos exigentes. Bastava um cabelão ao vento e um batom vermelho para a gente se achar…Lembrei daquele filme antes do amanhecer. Se fosse hoje a Julie Delpy seria mega produzida hahaha.
Adorei a fotonovela! Oscar de melhor ator coadjuvante à mala-carrinho, perfeita até em cena de morte, kkkkk…
Parabéns, ficou demais!
Muito bom!
Adorei isso. Ri litros
hahaha
Silvia!
Amei o post..vc tem um jeito de escrever q é super divertido.
To adorando o blog…e curtindo seu canal no youtube.
Parabéns!!!
vc é a melhor de todas, rindo horrores da desgraça alheia kkkk. Parabéns pelo post, blog, dicas…
Hahahaha! Põe desgraça alheia nisso! 🙂
Silvia, olá!! Sou muito sua fã! Sigo há mais de dois anos o seu blog e já fiz duas viagens inspiradas nas suas viagens e dicas! Santiago do Chile, seguindo seu roteiro, bairro a bairro e Gramado com os passeios e dicas de restaurantes baratos! O seu relato sobre o 1ª mochilão na Europa está hilário! Adorei! E me diverti muito!!! Adoro ler o Matraqueando e te agradeço pelas inspirações! Já estou programando as próximas férias e de olho nas suas dicas preciosas! Beijos e sucesso!
Que legal, Paula! Apareça sempre! 🙂
Amo esses posts ! Não canso de ler e morrer de rir com a extrema unção da mala…
Ahhhhh acabou!? Poderia passar horas aqui acompanhando essa viagem! Adorei as histórias. E adorei saber que a gente aprende! Eu estou na fase preciso-de-uma-mala-que-preste-mas-não-quero-abrir-mão-da-minha-mochila-jeans!
Sílvia,
Você é impagável!!!!sou fã do Matraqueando. Coitado do mochilão , indo pro lixo sem sequer ter direito a extrema unção, D+.
Adooooro essas lembranças antigas. Morri de rir com os três relatos.
Polliana, foi uma catarse.. por muito tempo tive vergonha desta história! hahahaha!
Rindo muito… Eu tenho uma foto (sem mim, rsss) exatamente naquela pontezinha em Veneza, retratando o mesmo canal (e o barquinho com a lona verde). E imagino a felicidade que vc sentiu em se livrar da sacola. Senti algo parecido no dia que comprei uma mala chinesa de um vendedor turco em Munique (viva a globalização) por 20 euros e parei de carregar peso, após 50 dias de mochilão.
Hahahaha! Mochileiros de primeira viagem… só muda o endereço! 😉
Nada como rir do passado… Passei por isso, também, nas primeiras viagens: sem Internet, sem experiência, sem dinheiro! E com direito a calça bag, também! Mas eu tinha mala (rsrs) Dá uma olhada lá no meu blog: mulhercasadaviaja.com.
Faltou você dizer das câmeras analógicas. Perdeu muitas fotos porque colocou o filme errado? Eu sim!
Abraços
Hahaha! Eu perdi muitas fotos porque eu não sabia mesmo tirar foto alguma! 😀
Silvia, sigo seu blog há bastante tempo…..Suas dicas são ótimas, ajudaram muito no planejamento da 1ª viagem à Europa, aproveito pra agradecer, valeu demais ! Mesmo assim pagamos alguns micos…. Morri de rir com os três relatos !
Tb viajei levando o Guia Frommer’s e fico impressionada como consegui fã de tudo com a ajuda dele.
ah, Silvia!!! uma sansonite é uma sansonite, mas eu comprei minha primeira mala de rodinhas (2 míseras rodinhas) em minha primeira viagem à Europa em 95. comprei em Paris. sabe a galeria lafayette? então, comprei num camelô em frente…. mas tá interaça, rsrsrs
Acredito, Ligia! A malinha que eu uso hoje (menor que a samsonite desta viagem que eu acabei doando para minha mãe) eu comprei num supermercado em Sevilha por 17 euros. Já são 10 anos com ela! 😀