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#MatracaDrops | Existe meritocracia?

Publicado por: Silvia Oliveira Matraca Drops, Pensatas


Não.

O que temos são pessoas beneficiadas pela tríade origem, sorte e talento.

Nascer em uma família estruturada — que pode proporcionar acesso a estudo, três refeições ao dia, roupas limpas, atenção e dignidade — coloca o cidadão em situação de privilégio em relação àquele que está em ambiente de risco, sem acesso à alimentação básica e carente de apoio escolar básico.

É evidente que o esforço pessoal conta. É óbvio que existem pessoas que se fazem de vítima. Está claro que muitos não fazem por merecer.

Para defensores da meritocracia basta ter “força de vontade” e certa habilidade pessoal para ganhar melhores espaços.

Mas, atenção aqui,  isso nada mais é que mero discurso para disfarçar —  ou justificar — privilégios, uma vez que, até para você descobrir seus talentos, provavelmente vai precisar de algum incentivo moral, financeiro e educacional.

Você aí que acredita em meritocracia, talvez queira me dizer “olha, eu fui muito pobre, tive muitos problemas, nunca tive apoio de ninguém, mas estou aqui, me esforcei e venci”. Pois eu digo, parabéns! Você realmente é um exemplo a ser seguido. [insira aqui um emoji de palminhas]

Só que essa discussão não está centrada nas exceções, mas nas regras que permeiam a falta de oportunidades e a desigualdade social num sistema universal.

Acreditar em meritocracia é fazer com que a organização socioeconômica pareça justa, quando na verdade, ela é quase sempre despótica, abusiva e parcial.

“Mas você, Sílvia, não conta todos os seus esforços para chegar onde sempre almejou?”

Lembra que eu disse no story anterior sobre os benefícios da tríade origem, sorte e talento?

Posso dizer que tenho uma capacidade acima da média para realizar coisas. Mas, diante de todos os privilégios que tive, só foi possível reconhecer e ampliar essa competência porque tive um entorno social que me proporcionou diversas oportunidades de crescimento.

Um exemplo clássico: eu nunca precisei trabalhar para ajudar meus pais dentro de casa. Durante a universidade, além de poder me dedicar somente ao estudo, fui bolsista de Iniciação Científica do CNPQ — e a remuneração da bolsa ficava inteiramente comigo.

Ok, talvez se me comparasse com pessoas que tiveram as mesmíssimas condições de vida que eu, até poderia dizer que, sim, foram meus esforços que me trouxeram até aqui.

Mas é muito mais lógico e justo dizer que tudo o que fiz (e faço) é nada mais do que minha obrigação. Eu tinha o dever e a responsabilidade de dar certo.

Matraca Drops é uma série de perguntas e respostas curtas no Instagram do @matraqueando, com várias temporadas atualizadas diariamente. As questões, dúvidas e reflexões que aparecem com mais frequência por lá são trazidas para o blog. Veja todos os drops aqui.

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