Guia rápido e prático de como viajar mais e melhor
Na semana passada dei uma entrevista ao portal Planeta Sercomtel – um guia de cultura, entretenimento e lazer de Londrina – no Paraná. Conversando com a jornalista Bianca Barille da Máxima Comunicação, empresa responsável pelo conteúdo do site, acabei fazendo um tratado (coitado de quem teve que editar o material!) sobre dicas de viagem.
Fui me baseando em tudo o que a gente já disse e repetiu aqui. Por uma questão de espaço jornalístico do portal apenas um resumão do conteúdo foi ao ar. Mas reproduzo abaixo a entrevista na íntegra para que você possa aprender um pouco mais com a gente e, principalmente, dar seus pitacos para que todos os matracos possam viajar cada vez mais e melhor!
1. Como planejar uma viagem?
O planejamento da viagem deve ser feito com, no mínimo, três meses de antecedência. Ao decidir colocar o pé na estrada o turista deve imediatamente escolher o destino, reservar a hospedagem, escolher o transporte – avião, trem, ônibus ou carro – e, principalmente, estudar muito o local a ser visitado.
2. Por onde começar a definir o roteiro?
O estudo necessário para montar um roteiro sozinho como a escolha do destino adequado, de acordo com seu tempo disponível, conforme sua renda e moldada aos seus gostos e preferências talvez seja o momento mais difícil do processo. É fundamental responder às perguntas: o que eu espero dessa viagem? Descanso? Lazer e cultura? Gastronomia? Balada? Prefiro praia e montanha?
3. Como definir a melhor época para viajar?
Viajar fora do período de férias – tanto daqui como do exterior. Na baixa temporada o turista tem alto poder de barganha nos hotéis e possibilidade de ganhar up grade nas companhias aéreas. Além do que, vai enfrentar menos filas nos principais pontos turísticos, economizando tempo – o bem mais precioso numa viagem.
4. Viajar acompanhado sai mais em conta?
Viajar acompanhado geralmente sai mais em conta do que viajar sozinho. A dois ou em grupo é possível dividir quartos, refeições, o táxi ou a gasolina do carro, por exemplo.
5. Viajar por conta própria vale à pena?
Com planejamento, viajar por conta própria não só fica mais em conta como proporciona uma experiência de vida única. Ao contrário do que muita gente pensa, ser viajante não é fácil. Perde-se o passaporte, o trem, o avião. Dá overbooking. O hotel – que custou os tubos – tem barata. A comida – naquele restaurante estrelado – está sem sal. Chove sem parar. Dá diarréia. Ou enxaqueca. A palavra de ordem é superação. O ideal é lembrar que a gente não precisa servir de lição. Mas pode ser exemplo para muita gente.
6. E de pacote?
Há alguns anos os pacotes eram o melhor custo-benefício para quem queria conhecer algum destino brasileiro ou internacional. Ainda existem boas pechinchas do gênero. Mas com a entrada de novas companhias aéreas no país – as famosas low costs – viajar de avião ficou mais fácil e barato. Algumas empresas dividem o valor da passagem em até 36 vezes. A ampla oferta de hotéis, pousadas e hostels (albergues da juventude) também abre a possibilidade de encontrar hospedagem com preços honestos e compatíveis com o orçamento de cada um. Importante ressaltar que pacote não é excursão. O pacote é um produto turístico que inclui apenas hotel e hospedagem, dando liberdade de escolha dos passeios no destino final.
7. Como funcionam as excursões?
Diferentemente do pacote – que só inclui hotel, hospedagem e, às vezes, um city tour simples, as excursões são feitas para quem prefere viajar em grupo ou que gostaria de visitar algum país como a Índia, por exemplo, mas tem medo de ir sozinho. Ao comprar uma excursão o turista não tem que se preocupar com nada. A agência de viagens cuida de tudo: hotel, transporte, alimentação, traslado entre cidades ou países e passeios. A grande desvantagem é justamente a total falta de liberdade de escolha durante a viagem e o pouco tempo dedicado às atrações. Segundo o Ministério do Turismo a excursão não é o modo de viagem preferido do brasileiro.
8. Como aproveitar uma viagem sem gastar muito?
Gastar menos não significa ter que expiar os pecados em todas as férias, mas há restrições – que podem variar do hotel-pelourinho à classe chicoteia do avião. O importante é fazer uma planilha de gastos e estipular valores diários sem nunca perder a dignidade.
8.1. Transporte até o destino
Se possível, evite marcar bilhetes aéreos de ida e volta na sexta e segunda-feira. Os dias mais baratos para viajar são terça e quarta. Pesquisar antes rende bons achados.
8.2. Transporte nas cidades
Utilize o transporte público. Sem reclamações. Encare como um passeio antropológico. Como o próprio nome diz é um serviço de uso comum, compartilhado e, por isso, mais acessível. No entanto, o uso deve ser racional. Evitar horários de pico e trajetos muito longos. Dar preferência a metrô e ônibus para passeios depois das nove da manhã e antes da cinco da tarde. Economizar nos tours privados ajuda a monetizar a viagem. O turista econômico só deve apelar para o ar condicionado dos táxis em caso de (muita!) chuva ou se for meio-dia e a temperatura passar dos 30ºC. Lembrando que nem só de táxi, ônibus ou metrô vive um turista. É bacana explorar roteiros que possam ser feitos a pé. É num trajeto descompromissado entre a igreja matriz até o museu mais próximo que o viajante vai descolar aquele restaurantinho prosaico e econômico que nenhum guia consegue indicar.
8.3. Alimentação
Os grandes mercados de rede ou até aquele empório na esquina do hotel podem render deliciosos e econômicos lanchinhos. Sucos de caixinha, pães, bolos e frutas – tudo em porções individuais – são fáceis de carregar e enganam aquela fominha miserável que faz o turista gastar um bom trocado no meio da tarde. Sempre recomendo incluir no tour gastronômico as comidinhas de rua: são típicas, baratas, aconchegantes e levam qualquer um à essência do lugar.
8.4. Compras
Já aprendi – por experiência própria – que não adianta dizer: fuja das compras! Investir num badulaque qualquer faz parte do processo psicológico ao qual somos submetidos durante uma viagem. Quando saímos de férias subimos um posto na nossa hierarquia pessoal. Por mais econômico que seja o passeio o turista vai gastar em uma semana fora de casa o que provavelmente gastaria durante um mês ficando nela. É como subir na vida por 15 dias. Ir às compras vai consagrar esse nosso estado emergente. O segredo é estipular um valor para os souvenires. Cada um saberá determinar quanto custa para ser feliz.
9. Como se livrar de roubadas?
O pior que pode acontecer em uma viagem é ficar doente ou ser roubado/assaltado. No primeiro caso, para diminuir as conseqüências, faça um bom seguro de saúde, principalmente se a viagem for internacional. Será o investimento mais barato do passeio. Sem um seguro, quatro horas internado tomando soro pode custar o dobro do que o turista pretende gastar em uma semana de hospedagem. Ninguém está livre dos batedores de carteira, mesmo em países considerados de “primeiro mundo”. O ideal é guardar muito bem os documentos – como cartões de crédito e passaporte – no money port, aquelas pochetes/bolsinhas que são feitas para usar debaixo da roupa e que são encontradas facilmente em lojas que vendem malas.
Fundamental dividir o dinheiro e colocá-lo em lugares diferentes, sendo que grandes quantias devem ficar trancadas no cofre do hotel. Algo que sempre evita surpresas desagradáveis é pesquisar o clima da região a ser visitada antes de embarcar. Investigue nos sites especializados em previsão do tempo como estará o clima no destino. Saber se vai chover, fazer muito calor ou muito frio ajuda na hora de montar a mala e evita gastos desnecessários por conta das intempéries de São Pedro. A falta de planejamento resulta em erros primários como escolha de hotéis inadequados, compras demais e bons restaurantes de menos
10. Planejar tudo tira a graça da viagem?
O planejamento é a alma da viagem. É como se ela durasse muito mais do que os dias de férias propriamente ditos. Destaco sempre que é fundamental aprender sobre o modus-operandi do lugar que o viajante quer conhecer. Blogs, sites, revistas e guias de turismo são feitos para isso mesmo. Virar um explorador à la Marco Pólo justo no dia em que a viagem começa vai fazer o turista perder tempo, o bem mais valioso em uma viagem. Quem não sabe o que ver ou fazer no destino costuma arruinar roteiros clássicos, comer mal, comprar errado e, invariável, pagar muito.
11.Quais são as dicas gerais para quem está pensando em viajar?
Acho que tudo já foi dito acima, mas eu reforçaria: planeje com antecedência, faça um bom seguro internacional de saúde, leve pouca bagagem, nunca troque dinheiro nos aeroportos, não use o telefone do hotel nem faça ligações usando o cartão de crédito. Faça compras com moderação, diga não às encomendas dos amigos, fotografe só o que for permitido, fique pelo menos quatro dias nas grandes cidades. Dê gorjetas, mas não esbanje. Leve um calçado usado para caminhadas, feche sua mala com cadeados e prove comidas típicas. No mais, esteja aberto a novas descobertas e supere os imprevistos com bom humor, sempre!
12. Quando uma viagem é bem sucedida?
Viagens planejadas são invariavelmente vitoriosas. A menos que o turista tenha decidido ir para um resort – cujo destino é o complexo em si – acordar sem saber para onde ir é um erro terrível numa viagem. Mesmo que o viajante tenha optado por um roteiro mais flexível, pelo menos um dia antes é importante estudar o que vai fazer após o café da manhã. A viagem dá certo quando tem objetivos bem definidos, selecionando os passeio e levando em conta possíveis variáveis: sol, chuva, calor frio, montanha, praia, cidade pequena, cidade grande. A viagem bem sucedida não é aquela totalmente livre de perrengues. Perder o trem, arrastar a mala pelo metrô ou pedir o prato errado naquele restaurante russo rende boas histórias na volta. E até mesmo quando o passeio não sai exatamente como a gente planejou acaba tendo seu valor. É uma questão de evolução!
Entrevista da Matraca concedida à jornalista Bianca Barille ao portal Planeta Sercomtel.
Sílvia, estou planejando uma viagem e adorei este manual. Pelo visto, tô no caminho certo. Brigada pelas dicas extras. bjo.
Concordo com 99,9% das suas dicas, e acho que as tenho seguido bem!
Perfeito! Muito completo e sensato!
De fato “ser viajante não é fácil”, correr atrás de passagens, encaixar os roteiros, fazer reservas de hotéis, albergues, etc… E esperar que tudo corra bem é um dever e tanto! Mas é delicioso!!!
Uma das coisas que mais aprendi viajando, é ser flexível e encarar os imprevistos com bom humor e leveza. Porque sem dúvidas, eles acontecem! E muito! hehehe
Ótima entrevista! Parabéns!