Gijón, Asturias: a fantástica surpresa do acaso
Não sei em que momento da minha vida eu teria incluído Gijón num roteiro pela Espanha se não fosse, assim, ao acaso. A cidade mais populosa da Asturias (quase 300 mil habitantes) era uma ilustre desconhecida para mim até poucos meses atrás. Todas as vezes que contemplei visitar esta região meu reflexo era sempre pensar em Oviedo, a capital da província — mais conhecida turisticamente.
Mas ao montar o roteiro da minha última viagem à Espanha vi que as datas iam coincidir com o Travel Bloggers Metting — o maior encontro de blogueiros de viagem da Península Ibérica, que este ano iria acontecer justamente em… Gijón.
Por coincidência, uma das organizadoras do evento é a blogueira espanhola María Victoria Rodriguez com quem dividi a mesa de debate no BloggerCon, em Puerto Rico. Ao saber que eu estaria na Espanha na época do TBM Gijón, ela acabou me convidando para ser uma das palestrantes do evento. Iiiiça! Assim, cheguei a Gijón — lugar do tipo “nunca te vi, sempre te amei!” Rá!
A cidade fica às margens do mar Cantábrico e tem uma história profundamente ligada aos temas marítimos. Gijón consegue entremear um ambiente praiano com patrimônio cultural e um quê de modernidade. Já foi, inclusive, finalista no programa EDEN (Destinos Europeus de Excelência) da Comissão Europeia, em reconhecimento à sua proposta de turismo sustentável.
Plaza del Marqués| Foto surrupiada do meu instagram –> @matraqueando
Como só iria passar dois dias aqui (um deles totalmente imersa no evento) me concentrei em conhecer a Cimadevilla, o conservadíssimo centro histórico da cidade (e ainda assim não consegui ver tudo!). A área tem vestígios romano, casarões palacianos, antigas moradas de pescadores e dezenas de sidrerías. (Guarde esta informação, falaremos deste símbolo asturiano logo mais).
Muitos dos prédios da Cimadevilla foram restaurados e se transformaram em comércio, restaurantes ou bares. A caminhada pode começar na Plaza del Marqués, logo após passar pelo Puerto Deportivo, lugar que forma uma das imagens mais lindas e emblemáticas de Gijón: os barquinhos com as casas medievais ao fundo. Aqui, estão o Centro Cultural Palacio Revillagigedo e a Colegiata de San Juan Bautista, dedicados a exposições de arte moderna.
Puerto Deportivo de Gijón | Imagem do meu instagram –> @matraqueando
A Plaza Mayor, centro nevrálgico do “casco viejo”, é cheia de bossa. Todo segundo domingo do mês (justo quando eu estava lá) acontece uma feirinha de produtos naturais e orgânicos. E nos alto-falantes que animavam a feira tocava… Luiz Gonzaga! Jupurdeus!
Fui perguntando aqui e ali e acabei descobrindo que um dos expositores (ai, não me lembro do nome dele, mas é conhecido como o “músico”) era o responsável pela trilha sonora daquele domingo. Ao conversar com o rapaz, ele me disse que conheceu o Brasil e ficou apaixonado pela música do Sertón Nordestino!
Restaurante La Casona de Jovellanos: menu do día a partir de € 6.
Já na Plaza de Jovellanos está o Museo Casa Natal de Jovellanos, uma referência a Gaspar Melchor de Jovellanos, político e escritor nascido em Gijón. O edifício (século 16) contém telas e esculturas de vários artistas da cidade.
Ao lado da casa natal está a Capilla de los Remedios, onde Jovellanos está enterrado. E bem próximo você encontra o restaurante La Casona de Jovellanos, opção de almoço com ótimos preços (menu do dia a partir de € 6 com entrada, prato principal e bebida). Na foto acima está o peixe (prato principal) e a entrada foi uma generosa porção de paella!
Plaza Mayor de Gijón | Foto do meu Instagram –> @matraqueando
Um pouco mais adiante estão as Termas Romanas, resquício dos primeiros assentamentos dos povos que passaram por Gijón. Para melhor aproveitar as peculiaridades do bairro de Cimadevilla não há muito saída a não ser perder-se pelas callejuelas da região. Se você não tiver pressa é passeio para dia inteiro.
Indo em direção à estação de trem de Gijón (já fora da Cimadevilla) está o Museo del Ferrocarril. O local conserva, investiga e divulga o patrimônio ferroviário da Astúrias.
A proposta do museu é aproximar o visitante não só do passado nostálgico dos “anos que não voltam mais”, mas também mostrar a influência deste tipo de transporte na economia, cultura e sociedade asturiana. É pequeno, mas muito bem montado! As crianças, principalmente, vão gostar!
Um pouco mais afastado do centro, a três quilômetros da cidade, está a Universidad Laboral de Gijón, onde aconteceu o TBM – Travel Blogger Meeting, evento em que palestrei. O edifício é um enorme complexo de pedra — granito e mármore — que bate muitos recordes: são 270 mil metros quadrados de superfície, 55 mil de fachadas e no interior está a maior igreja de planta elíptica do mundo.
Já a torre, uma mistura de Farol de Alexandria e Giralda de Sevilla, mede 130 metros de altura. A universidade foi a maior obra do arquiteto espanhol Luis Moya Blanco. A Laboral, apesar de ser um dos atrativos turísticos da cidade, é um dos principais centros de formação de Gijón.
Já o que me marcou como identidade de Gijón foi a Sidra, a bebida oficial asturiana feita com o suco fermentado da maçã. São dezenas de sidrerías pela cidade. Minha ideia era conhecer algum centro de produção com campos de maça (há vários) e acompanhar todo o processo de criação do célebre néctar da região. Mas meu tempo, curtíssimo, não permitiu.
Então fomos conhecer um dos restaurantes típicos da cidade, o Tierra Astur, especializado na cozinha asturiana como a clássica Fabada que, apesar do nome, é preparada com feijão branco e não com favas! (Ah, o restaurante está em frente ao Acuario de Gijón, um ponto turístico que não visitei, mas que pode agradar aos aficionados do gênero). 😀
Algumas mesas ficam dentro de grandes tonéis, tornando o ambiente totalmente acolhedor. Garrafas de sidra vazias decoram magistralmente o local. Como estávamos em várias pessoas pedimos diversos pratos para provar. Queijos, embutidos, mariscos, peixe frito, pães, pastas e, claro, a Sidra.
O momento mais esperado é quando o garçom vai “escanciar” a bebida. Escanciar é um modo particular de servir a Sidra. A pessoa ergue com uma mão a garrafa o mais alto que puder e verte o líquido dentro de um copo que está na outra mão lá embaixo.
Detalhe: não pode olhar para cima, o que torna a experiência quase sensitiva e etérea para quem está servindo ou observando. E a questão aqui não é só o show pirotécnico da coisa. O fato de “escanciar” tem tudo a ver com o oxigênio que se mistura com o gás carbônico da Sidra o que faz com que a bebida fique levemente gaseificada. Gente! 😯
Ah, esse regaço gastronômico todo saiu apenas € 18 por pessoa, incluindo todas as Sidras de Gijón! Hic!
SERVIÇO
Site do Turismo de Gijón | www.gijon.info
Como chegar | O aeroporto mais próximo está em Oviedo, a 40 quilômetros de Gijón. Do aeroporto é possível ir de táxi a Gijón (a partir de € 50 a corrida), ônibus (a partir de € 5) ou trem (a partir de € 4).
Gijón combina com
________________________________
Fotos: Sílvia Oliveira
Silvia, eu acompanhei essa sua viagem no IG e fiquei apaixonada pelo lugar. Também não conhecia. E fiquei tentada a inserir no meu roteiro. Mas eu não estou pensando em ir ao Norte da Espanha (meu roteiro é Madri, Barcelona, Sevilha). Você acha que daria para incluir Gijon? Quantos dias você recomedna na cidade? Obrigada!
E longe e perto de Santander
Linda a cidade
Não há cidade na Espanha que não seja um tesouro a céu aberto. Me encanta!
Só conheci Oviedo. Se soubesse que tão perto teria essa jóia teria passado por Gijón. Parabéns pelo post. É o tipo de artigo que estimula nossa curiosidade de conhecer um lugar pouco divulgado entre os brasileiros. Beiju!