Generalizar é pecado
Não existe maior declaração de amor à humanidade do que fazer turismo sem preconceito. Quem viaja deve ter disposição para encontrar o diferente sem julgar ou depreciar a conduta alheia. Botar o pé para fora de casa já deveria bastar para superar nossas crendices sobre lugares e pessoas.
Centenas de clichês circundam cidades, regiões e até um povo. Quem nunca disse que curitibano é antipático? Ou que parisiense não toma banho? Ou que gaúcho é, vamos dizer assim, cabro macho? Ou que todo mexicano é vaqueiro?
Estereótipos são assim mesmo. Trata-se de uma imagem mental muito simplificada e ignorante que a gente faz sobre um determinado grupo de pessoas. É a maneira fácil que encontramos para rotular os outros baseados numa visão etnocêntrica e individualista.
Eu sei, eu sei. Dá vontade de dizer — e muita gente diz — que baiano é arrastado, que alemão é cachaceiro, que carioca é vagabundo, que árabe é terrorista, que português é burro, que paulista é frio, que italiano é grosso, que brasileiro é malandro e que todo argentino é um filho da puta.
Veja, temos italiano malandro, paulista arrastado, árabe burro, brasileiro grosso, português cachaceiro, alemão vagabundo e um bando de gente fio duma quenga que nem argentino é. Viu? Características de comportamento quase sempre dependem do indivíduo, não necessariamente do lugar onde vivem. Importante, você encontra nas pessoas exatamente o que espera delas.
Mude o foco.
Antes de generalizar o outro pense se você, um brasileiro, gostaria de ser rotulado como homens que andam com arco e flecha nas mãos, mulheres que vivem na praia com o biquíni enfiado na buzanfa ou crianças que brincam com seus animaizinhos de estimação, os macacos. Logo…
A propósito, nem todo alemão usa suspensório assim como nem todo argentino sabe dançar tango. Ou você já imaginou o Papa Chico encoxando uma portenha ao som de Carlos Gardel? Aliás, depois do anúncio do novo Pontífice, nosso cérebro estereotipado entrou em colapso. Justo ele, a pessoa mais humilde do mundo, é… argentino.
Cuidado, porque se generalizar já era feio agora, além de tudo, é pecado! 😛
Posts relacionados
O mundo acabando e você aí, falando de viagens?
Ofício de blogueira versus espírito de viajante: como manter um sem acabar com o outro
Sílvia Oliveira, a moça do tempo
Qual é a viagem certa para você?
Como diferenciar uma hospedagem simples da pobre de espírito
Turismo de compras: como não ir à falência
Por favor, deixem o turista em paz!
Os sete pecados capitais do turista
_______________
Foto: Kay Pat | Image Bank
Adorei, sensacional!
😀
Não há melhor remédio para quebra de paradigmas do que do que um bom acúmulo de quilometragem. E tem também as viagens àqueles lugares cuja cultura difere fortemente da nossa. Nesses casos, essa diferença precisa ser encarada não como espanto, ou como mero motivo de vanglorio por ter experimentado algo exótico, mas sim como valiosa oportunidade de expansão de horizontes.
Perfeito, Robson! 😉
Não poderia concordar mais, Silvia! Precisamos nos libertar dos pré-conceitos e aprender a julgar menos. E para isso, precisamos viajar mais. Concordo com o Robson: um bom acúmulo de quilometragem é o melhor remédio.
Julgar menos e tolerar mais! Rá! 😉
Perfeito, Sílvia. É como aquela frase que diz que viajar é o melhor remédio contra o preconceito. Vou te contar uma coisa que aconteceu comigo: nunca me achei uma pessoa preconceituosa. Durante o um ano que passei viajando ao redor do mundo, descobri que não é exatamente assim. Tendemos a julgar os outros, a achar nossa cultura mais certa do que a do outro. Aí a gente quebra a cara e se dá conta que a verdade não é bem assim… Por isso que eu simplesmente amo viajar. É uma coisa que me torna alguém melhor, mais tolerante. Alguém que luta contra preconceitos que nem mesmo sabia que existia. =p
É até natural, Rafael, ter essa visão “só nossa”. Temos uma “realidade” que é a nossa “verdade”. Para nos libertar, basta uma viagem e nem precisa ser para o Sudão. Triste é quem viaja muito e ainda rotula ou se acha superior ao outro! Abs!
Perfeito. Lúcida, como sempre! 🙂
Fofa! 😉
Concordo com a Silvia e com meus colegas de comentários. Mais do que não julgar é fazer o esforço para reconhecer que não somos melhores do que ninguém! Abraço de Niteroi!
Exato, Gil!
Concordo demais, Sílvia! Acho que todos acabamos absorvendo muitos desses preconceitos/estereótipos sem nem perceber… No fim das contas, se você se esforçar um pouco pra conhecer o outro acaba percebendo que não dá pra generalizar mesmo – nem se quiser!
Cansei de ouvir, aqui em Valladolid, o pessoal (daqui e de outros lugares) dizendo “Aah, você já morou em Sevilla? Lá as pessoas são bem mais abertas do que aqui, né?”, e responder que na minha experiência não foi assim…
Também já ri muito com coisas que parecem absurdas, tipo me perguntarem onde fica o Brasil (somos tão pequenininhos, né?), mas sempre faço questão de lembrar a mim mesma o quanto não sei sobre taaaaaaaaanta coisa nesse mundo.
E já tive amigas que tavam fazendo intercâmbio e passaram maus bocados recebendo parentes que vieram pra visitar e em vez de aproveitar a viagem, não paravam de reclamar disso e daquilo sobre “o povo” local.
Enfim, acho que quem sai perdendo é quem não consegue desapegar dessas ideias preconcebidas, né? 🙂
Beijo!
Ai, Luisa… isso porque eu nem acrescentei sobre os que pensam que falamos espanhol! hahahaha! Bjs!
Ótima reflexão!! É por isso que amamos viajar, para que o mundo vá aos poucos mostrando o que é estereótipo sem fundamento
Douglas, já escutei muita gente voltando da Argentina dizendo que odiou, que achou todo mundo mal educado, grosseiro. Olha, já estive umas 4 vezes em BsAs e sempre amei, e fui bem tratada. Agora, se a pessoa vai esperando ser mal tratada… é esta percepção que ela vai ter! Abs!
Muito bom!!! Já pensei dessa maneira, por isso que viajar é mais um ótimo motivo de abrir nossas mentes e ver com os nossos olhos e tirar as nossas próprias conclusões!!! #openyourmind #behappy
Por aí, Camila! 😀
Tem razão Silvia ! Qualquer tipo de julgamento é algo acultural ! Principalmente julgar que um blog como o meu é inverossímel ! Daí não dá pra compreender mesmo ! Como tambem posso acreditar que vc viveu tudo o que está escrevendo ? Julgamento desse tipo é altamente despresível !!!
Generalizar é pecado !!! Julgar sem fundamento tamém ! Como sua associação “analisou ” meu blog como não sendo experiências vividas por mim ! Qual o critério pra aferir sensações por mim vividas ? Lindo é escrever como vc escreveu sua crônica , mas mais nobre é o respeito por um trabalho alheio ! Sem julgamentos , ainda mais indevidos !!!
Estimada Adele!
Por favor, respeite o meu trabalho e o da associação à qual você se refere. Este não é o lugar para você dar a sua opinião sobre a avaliação do seu blog, muito menos de forma grosseira. A associação não é “minha”, ela foi fundada por nove dos maiores blogs de viagem deste país. Eu apenas fui a presidente eleita. Caso você ache que houve uma incorreção na análise do seu site (que não é feita só por mim, mas por 11 diretores), por gentileza, entre em contato diretamente com a ABBV. Teremos o maior prazer em reconsiderá-la.
Obrigada!
Estimada Adele!
Recebemos seu e-mail na ABBV e ele já foi respondido. Em respeito aos meus leitores, que nada têm a ver com seu desabafo neste espaço, esclareço que a blogueira em questão interpretou de forma equivocada o porquê de seu blog não ser aceito na associação, da qual eu sou a atual presidenta. Por critérios estatutários, o blog deve ter “relatos e experiências pessoais legítimas”. A blogueira entendeu que dizíamos que os posts não eram de sua autoria quando usamos a palavra “legítima”. Mas a questão aqui é a falta de relatos. Uma vez que o blog dela é basicamente constituído de fotos com legendas (sem relatos) caracterizou-se o que chamamos de Fotoblog ou Tumbrl. Para efeitos da ABBV, essa abordagem editorial, embora válida, não torna o site apto para ser associado.
Pela atenção, muito obrigada!
Texto fantástico! Adorei seu senso de humor! Adoro seu blog! Parabéns!
Muito bom mesmo! A Cynthia disse tudo, senso humor é fundamental! E isso você tem de sobra, Sílvia. (Até quando baixam o nivel com você). parabéns, continue seu trabalho, é maravilhoso!
Um dos lugares que mais vejo essa generalização idiota é nos portais como Globo e Terra, portais que deixam aberto a comentários. Sempre tem um querendo ser melhor que o outro e xingando o lugar e a pessoa conforme região onde mora. Um bairrismo desnecessário e que só faz o país não ir para a frente.
Ótimo post, e o melhor trecho foi:
“e um bando de gente fio duma quenga que nem argentino é”
Saquei a sutileza de interpretação 😀
ass. o preconceituoso 🙂
Hahahaha!
Bravo!!! Excelente texto, Silvia!
Vou compartilhar 🙂
Valeu, Gabriela!
Perfeito Silva,
A gente sempre fala para nossos turistas que o melhor presente da viagem é abertura de espírito! E para aproveita-la bem é fundamental chegar de coração aberto
Abs
Josi
Exato! 😉