Farofeiros de raiz, uni-vos!
Sabe aquele turista que invade a praia com mil e uma sacolas, prepara o rango como se estive na cozinha de casa, deixa latinha espalhada na areia, não recolhe o próprio lixo e coloca a música do carro no último? Não, ele não é farofeiro. Ele é sem educação. Gente que desconhece a palavra cidadania e não sabe o que significa respeito ao próximo.
Por causa de tipos assim muitos viajantes sentem-se constrangidos em levar o próprio lanche ou bebida de casa. Algo absolutamente comum tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, seja quando viajamos de avião, carro ou ônibus. Aqui, preferimos pagar R$ 15 num pão de queijo com café no aeroporto a montar uma marmitinha saudável com iogurte e sanduíche natural comprados no supermercado pela metade do preço.
Ser chamado de farofeiro é ofensa mortal para o turista emergente. Entendo. Quando saímos de férias subimos na vida. É nosso momento-patrão. Qualquer adjetivo que nos associe ao modus operandi considerado suburbano é insulto, quase uma afronta moral. É necessário pagar — quanto mais caro, melhor — para ser aceito no universo dos novos ricos viajantes. Só que não.
Nada mais digno do que o poder de escolha. Montar o próprio farnel pode ser um ato de inteligência que nada tem a ver com pão durice ou chinelagem. Ora, atravessamos o oceano para fazer piquenique no Jardim de Luxemburgo em Paris — muitas vezes com o intuito de economizar na janta. Mas fazer a mesma coisa num parque tupiniquim, porém, é considerado coisa de pobre indigente.
Sou farofeira de raiz. Sempre que posso levo minha matula. Nada muito complicado. Saunduichinhos, cookies integrais, castanhas, iogurte natural, suco orgânico, chocolate amargo e água. O meu kit- sobrevivência traz diversas opções, é bem mais saudável e custa a metade do preço do combo vendido nos voos nacionais (sanduba de presunto e queijo, refri e batata chips) ou em lanchonetes de beira de estrada.
Vale também para quando a espera no aeroporto é longa.
Não se trata de avareza. Sou uma muquirana com limites até. Mas tenho tarimba no assunto. A questão é bem mais ampla. Estamos falando do exercício da liberdade, intrínseco ao ato de viajar. Da nossa capacidade de dizer não à lata de cerveja de R$ 10 sem temer julgamentos ou sem se sentir menor ou mais pobre por isso.
Não tenha vergonha do seu isopor na praia ou da sua marmita itinerante. Mais do que seu status, eles devem refletir sua indignação. Artigo de luxo é ser cidadão. Ter medo de parecer farofeiro de raiz é complexo de inferioridade. Ostentar, aliás, é – antes de tudo (e qualquer viagem) – dar valor ao próprio e suado dinheiro.
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Aplaudindo de pé!! =)
Ri muito lendo seu post ! eu virei uma grande farofeira aqui na França ! todo mundo anda com sua marmitinha sem nenhum complexo ! é mais saudavel e bem mais economico, mas acho que os brasileiros ainda nao estao preparados ! é tao facil reconhecer os brasileiros no aeroporto ou andando pelas ruas de Paris , basta olhar para as roupas de marca deles….rsrsrsrs
Rsrsrsrs! Minha namorada faz o “farnel” como você. Já fiquei encabulado com a “farofagem”, mas concordo contigo temos que mudar esta mentalidade e para de sermos explorados. Farofeiros, uni-vos!
Adorei. Sou mão de vaca com orgulho e adoro levar lanche pra não ficar a mercê da exploração de aeroportos e cias aéreas. Minha última façanha foi a ida de minha cidade até Sampa em que fiz duas baguetes enormes de presunto Parma e queijo brie pra levar e comer de lanche no hotel em que fiquei, junto com 2 garrafas de meio litro de água (a do hotel era de 300 ml e custava 5 reais). Primeiro pq sabia que teria pouco tempo pra chegar e pedir um lanche pois fui pra assistir um show e o vôo atrasou. ..Segundo pq pelo preço dos dois lanches, pra mim e minha filha, eu teria comprado apenas 1 no hotel e pelo preço da água dava 3 garrafas das que levei. Orgulho de ser muquirana.
Para ser sincero, a leveza do texto revela nas entrelinhas o preconceito e “o modo bananense de ser ” (risos). Confesso, sou farofeiro sim, mas muitas vezes me dirigi para um cantinho com o proposito de fugir do julgamento alheio. Hoje me libertei! Farofeiros, uni-vós!
Marmita hoje em dia já é coisa chique! Vergonha pra quê? Sair com o lanchinho de casa pra mim às vezes é questão de sobrevivência, pois não é raro não encontrar opções vegetarianas por aí. A garrafinha de água dobrável levo pra todo canto e abasteço sempre que encontro um bebedor. O meio ambiente também agradece, né? Só não sou tão saudável como você. Além de umas castanhas, sempre carrego barras de chocolate bem gordurosas. 😉
Hahaha! Eu gosto de chocolate ao leite, muito. Mas aprendi a comer o amargo porque de tão ruim a gente come pouco e, no meu caso especificamente, me dá uma saciedade incrível. 😉
Curti muito esse post! Como me identifiquei!
Meu sangue farofeiro sempre fala mais alto quando vamos à praia e levamos nossa comida. Porque, sério, pagar R$80,00 num peroá frito sem acompanhamento não dá.
Nossa quantos farofeiros!!. Achei muito bacana esse post, você está de parabéns!
Eu viajo só nas férias, mas não largo mão de gastar pouco, até pra ficar mais tempo na viagem e curtir um pouco mais. É preciso mesmo combater esses abusos cometidos em aeroportos levando o nosso próprio lanche sim. Levar nossa garrafa de água nos passeios. Eu geralmente ando com uma mochila e nunca tive vergonha de fazer minhas refeições mais em conta. O meu suor custa caro e não preciso impressionar ninguém.
Bravo!
A farinha em meu estado era menos de 1real chegou ano passado a mais de 6reais. Então, chamar alguém de farofeiro, não é ofensa e sim elogio…rsrs.
Eu e minha família temos nosso kit praia e levamos tudo até bola, snorkel e frescobol.
Na praia do Lord, em Praia do Forte, aluguei 3 cadeiras por 10 reais e passamos o dia todo e ao nosso redor um monte de farofeiros. Vergonha pra quê?!
Aproveitando, sugiro como matéria para um futuro post, os preços que beiram a extorsão praticados em várias cidades brasileiras.
Abs.
A mais pura verdade. E o seu kit de sobrevivência é quase igual ao meu! Como faz pra levar iogurte? Tenho medo de estragar estando fora da geladeira por muito tempo… Beijos 😉
Adriana, eu uso uma pequena bolsinha térmica que comprei quando a Mariana usava mamadeira ainda. Ela é compridinha e fina (do tamanho da mamadeira). Eu comprei numa loja do bairro Liberdade há alguns anos, não me lembro direito do nome da loja, mas acho que era a Kyoto.
Eu esquentava o leite da mamadeira e ele ficava morninho até a hora dela tomar. Hoje, então, eu uso para levar iogurte que, dependendo do tamanho, cabem até três (um em cima do outro) ou mesmo suco gelado. 😉
Muito bom. Também sou farofeira de raiz e assim como disse o Werner logo acima também já me senti julgada e constrangida por causa de “marmita”. mas você explicou bem, nada mais digno do que dar valor ao próprio dinheiro (e não ser feito de trouxa com alimentos de baixa qualidade e preços abusivos!0 Beijos querida! Amo seu blog!
Brasil urgente, Matraca Presidente!
Que gostoso ler isso. Sempre levei lanchinho para o aeroporto, principalmente em longas paradas e eternas conexões. Nunca senti vergonha. Acho que é uma atitude muito digna, porque é uma atitude de respeito ao nosso trabalho. Sendo assim, também sou um baita farofeiro.
É verdade!O lixo deixado nos lugares públicos para diversão da população,é falta de respeito mesmo e as vezes até de cultura,é a coisa mais normal do mundo você ir a um local para descontrair e levar um lanche,isopor com algo gelado para matar a sede,sem ter que ter vergonha.É uma pena que algumas pessoas ou muitas,esqueçam de colocar o lixo no lugar certo!
Gostaria de deixar o endereço do meu blog
http://oaventureiro68.blogspot.com
Às vezes levar o lanche é também questão de sobrevivência, rsrs. Já aconteceu de não ter uma lanchonete aberta na sala de embarque até às 7 horas da manhã. Para quem chegou para conexão na madrugada e jantou no avião “aquela” refeição é uma violência. Depois de ligar até na ANAC para reclamar, abriram a lanchonete uma hora mais cedo e me venderam um misto quente com capuccino por quase R$ 50,00, ainda tive que agradecer. Em Buenos Aires a falta de opção e de concorrência também é um problema, a única lanchonete aberta no horário do embarque vende sanduíches embalados à vácuo de qualidade questionável a preços extorsivos e não dá troco. Ser “farofeiro”, além de econômico, é necessário.
Que delícia de texto! Adorei! Depois de passar alguns perrengues estou aprendendo a levar um lanchinho na bolsa para o aeroporto ;). Fazer piquenique também é amor né?! Só acho que estamos precisando de mais farofeiros e menos mal educados. Sempre que vou a um parque ou uma praça aqui em Belo Horizonte fico feliz em ver cada vez mais gente aproveitando o espaço público e triste com a sujeira que deixam…
Oi Silvia !
É permitido levar marmita no avião ( seja vôos nacionais ou internacionais) ? Eu n sabia.
Isabel, eu não levo em voos internacionais porque nestes há comida disponível. Mas sempre levo algo para beliscar, pequenos sanduícinhos e até castanhas, nunca me barraram. Nos voos internacionais, além de respeitar as regras dos líquidos, você não pode entrar no país de destino com leite, queijos e derivados e castanhas, por exemplo. Tem que comer tudo no avião. 🙂 Em voos nacionais não há restrições. E a marmita vale, principalmente, para o aeroporto!
Muito bem colocado. Ainda mais em vôos domésticos nos EUA, onde nem sempre existe comida dentro do avião, nem pagando. Mas como você disse, seja limpinho! Não é vergonha nenhuma levar comida.
Muito, muito, muito bom!!! Seus textos são sempre ótimos, mas me identifiquei especialmente com este! Quando vamos às praias de São Paulo, nosso bom e velho Coleman é companhia inseparável. E nas últimas férias pelo nordeste, nos superamos: chegamos a comprar um isopor baratinho em um mercado pra poder levar nossas heinekens à praia!!!
Toca aqui! 0/
Adorei!!!! Parabens!!!! muito bom!!!
Muito bom, me senti em casa…Sou farofeira há muito tempo, mesmo com algumas amigas achando ruim. Mas além de sempre economizar nas viagens, sou meio difícil com comida, então prefiro levar do que pagar por algo que acabo não gostando. E depois de morar fora do Brasil por uns anos, fiquei ainda mais convicta e “sem vergonha”. Hoje em dia mesmo quem achava ruim, já está adotando a farofa!
Silvinha
Amo seus textos. Esse então…. Matraca sempre ligada, descolada e antenada com o que é bacana!! Marmita e farnel são tudo de bom! Bjão