Eataly São Paulo: tudo sobre o complexo gastronômico italiano
Novidade não é mais. Inaugurado há dois anos, o Eataly São Paulo já foi cantado em verso e prosa por deslumbrados meios de comunicação, vários brogues incluídos. A cidade com maior número de italianos fora da Itália foi a escolhida para receber a primeira unidade da América Latina.
Com 38 lojas espalhadas pelos quatro continentes, a filial brasileira se consolida como uma enorme praça de alimentação temática, onde a gente enfrenta fila, come num lugar barulhento e paga acima da média. Mesmo assim, de forma geral, o empreendimento é sucesso entre turistas e paulistanos.
A proposta é simples. O complexo busca reunir o universo da gastronomia italiana em um só lugar. O nome, aliás, surgiu da fusão de duas palavras, EAT (comer) e ITALY (itália).
São mais de 7 mil produtos como queijos, embutidos, vinhos, molhos, azeites, balsâmicos, carnes, massas, doces, pães, chocolates e bebidas variadas. O local também oferece workshops, tours guiados e uma livraria com títulos especializados na área.
Mas é preciso muita boa vontade e bufunfa para pagar R$ 45 num pote de azeitona importada. Frequento alguns mercados gourmets em diversos lugares que visito. Gosto de conhecer produtos e marcas diferentes. Uma pastinha, um tempero, uma massa exótica.
Apenas como exemplo, recentemente, voltando de uma viagem à Terra Santa (veja no meu Instagram), passei por Roma e comprei na Enoteca Al Senato (loja perto da Piazza Navona) um potinho de patê de trufas e cogumelos por 4 euros. Com este valor eu não consigo levar nada de significativo do Eataly Brazil. Vai vendo…
Eu só conhecia o Eataly de Nova York. Acho até okay pagar US$ 20 num bom prato de nhoque no coração de Manhattan. Mas investir R$ 65 pelo mesmo prato no Brasil, para mim, é uma insanidade, levando em consideração custo de vida e salários médios dos dois países. Mesmo estando em São Paulo.
Muito bem, passando o momento ranheta e mimizento, digo que o Eataly São Paulo é um ótimo lugar para apurar o gosto. É organizado, bonito, colorido, cheiroso e a variedade de produtos realmente impressiona.
Na nossa última viagem à capital paulista, no começo de abril, comemos duas vezes aqui. Porque dinheiro de trouxa é festa de malandro… já dizia meu pai. (Tá bom, eu paro!) 😀 A primeira, no restaurante Trattoria Italia (inaugurado há poucos meses). Depois, experimentamos a famosa pizza do Rossomodoro, premiada como a melhor da cidade.
No Trattoria Italia, cada um pediu um prato. Mariana foi de Gnocchi Alla Sorrentina (nhoque de batata ao pomodoro gratinado com mozzarella de búfala – R$ 42). O Raul ficou no Medaglioni Marinati (filé migon grelhado, marinado no azeite acompanhado de pomodoro e mozzarella – R$ 52), estava excelente, foi o prato de que mais gostamos.
Eu escolhi o Pesce del Giorno al Forno (peixe do dia ao forno – R$ 40), esse pedacinho aí embaixo sem qualquer acompanhamento. De entrada, o Cuoppo Frito (legumes, lulas e croquete de batatas fritos envoltos num cone de papel), que de tão encharcado de óleo, não comemos.
Ou seja, ser grã-fino e “comer bem” é quase passar fome e pagar muito caro para isso. Detalhe: se tivessem sido os pratos de nossa vida, perfeito. Já pagamos muito mais por isso em outras oportunidades. Mas esta foi apenas mais uma refeição média com uma entrada intragável. Veja o cardápio completo do Trattoria Italia aqui.
No Rossopomodoro eles prometem a verdadeira pizza napolitana: crosta alta e macia, dupla fermentação da massa de, ao menos, 24 horas e ingredientes mediterrâneos frescos. Pedimos a Burrata (molho de tomate, burrata fresca, prosciutto de parma, tomate cereja, azeite de oliva extravirgem e manjericão fresco). Custa R$ 52 a pizza i.n.d.i.v.i.d.u.a.l. Que nós dividimos, claro.
Migo, assim fica difícil te defender! Só para efeitos de comparação, neste dia havíamos almoçado no célebre Lámen Aska (rua Galvão Bueno, 466 – não tem site) no bairro da Liberdade e a conta para os três não deu o valor da pizza. Veja o cardápio completo da Rossopomodoro aqui.
Ou seja, um casal que senta para comer vai gastar, no mínimo, uns R$ 200 – desde que não opte pelos pratos e/ou vinhos mais caros dos restaurantes. Lembrando – e isso é bem importante destacar – que não estamos falando de restaurantes estrelados nem de chefes renomados.
No La Risotteria, por exemplo, o prato de risoto Gamberi e Broccoli (camarões, brócolis e dedo de moça) sai por R$ 65. Querendo gastar menos, aposte no Caprese (tomate, mozzarella e manjericão) por R$ 42. Veja o cardápio completo da La Risotteria aqui.
Já o La Pasta, especializado em vários tipos de massas, cobra, em média, R$ 45 por um prato de macarrão. Ok, é Spaguetti al Pomodoro ou Fusilli com Ragù di Maiali e Finochi. Mas no Matraca Translator é ma-car-rão. Veja o cardápio completo do La Pasta aqui.
O Eataly tem mais quatros restaurantes. O Le Verdure (vegetariano) e Il Crudo (pratos à base de peixes e ostras) ficam um ao lado do outro e têm o cardápio agrupado. Já o La Carne e La Rosticceria oferecem, dizem, os melhores cortes do açougue próprio do complexo. Os pratos variam de R$ 38 a R$ 79. Veja o cardápio completo aqui.
O Il Pesce é o restaurante de peixes e frutos do mar. Os pratos tradicionais seguem os preços dos concorrentes. Veja o cardápio completo aqui.
Uma novidade é o Pranzo Veloce oferecido pela maioria dos restaurantes. O cardápio com prato do dia, água ou suco ou refrigerante orgânico (???) e sobremesa sai por R$ 38, válido para almoço de segunda a sexta (exceto feriados), das 11h30 às 15h. A promoção é por tempo determinado.
Fiquei com vontade de voltar para comer no Brace (foto acima), o restaurante que fica isolado no último andar. Até por conta da localização (totalmente afastado dos outros estabelecimentos do Eataly) achei que os preços seriam exorbitantes. Mas subi, pedi para ver cardápio, tirar algumas fotos do local e foram bem atenciosos.
Para minha surpresa os preços das massas (entre R$ 42 e R$ 70 o prato) eram praticamente os mesmos dos outros concorridos e ruidosos restaurantes. E os grelhados, forte da casa — Brace significa brasas — ficam, em média, R$ 60/70.
Mas o ambiente do Brace era bem mais sofisticado e calmo. E eles ainda têm o Pranzo D’Affare, com um cardápio que inclui antepasto, prato principal e sobremesa por R$ 52. Válido de segunda a quinta (exceto feriados), das 11h30 às 15h.
Antes que você problematize minha pão-durice é válido destacar: imagino que para um paulistano ou carioca estes valores sejam preço de boteco. Mas como vivo em Curitiba e aqui (ainda) se come mais barato do que em muitos lugares no Brasil, pra gente sentar e pagar R$ 300 num jantar para os três tem que ser a refeição da vida! #prioridades
A sobremesa no Eataly é um capítulo à parte. Onde eu vi alguma vantagem, aliás. Tem uma confeitaria linda (doces por R$ 14 cada), cafeteria (espresso pequeno por R$ 5,50 e cappuccino por R$ 8).
Tem ainda uma gelateria (com os famosos gelatos/sorvetes italianos, casquinha regular com dois sabores por R$ 15) e um quiosque da Nutella com crepes recheadíssimos com o creme de avelã por R$ 15. Ao acrescentar duas frutas sai por R$ 18. Todos os valores deste post são de abril de 2017.
Se eu voltaria ao Eataly? Sim. Comeria uma pizza por fatia (R$ 7 o pedaço) na padaria de lá, tomaria um café e dividiria uma sobremesa. Para mim, o passeio em si vale mais do que as coisas que você come e/ou compra lá, tratando-se de custo-benefício.
E querendo/podendo gastar mais arriscaria um almoço no Brace. Sem contar que o empreendimento serve como uma enorme vitrine culinária para quem gosta de conhecer produtos gastronômicos excêntricos e diferenciados.
SERVIÇO
Horário | De domingo a quinta, das 8h às 23h; sexta e sábado das 8h à meia-noite. Atenção: os horários dos restaurantes variam. Normalmente, funcionam de 11h30 às 15h e das 18h30 à meia-noite. De qualquer maneira, informe-se antes de ir.
Local | Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1489 | São Paulo-P
Telefone |11 3279-3300 | Email: informacoes@eataly.com.br
Como chegar | O Eataly fica na charmosa Vila Olímpia. Não existe metrô na região. A linha de trem mais próxima é a Esmeralda (linha 9). Tem que descer na estação Vila Olímpia e andar uns 15 minutos até o complexo. Nós fomos de Uber e a corrida da região do Paraíso (onde ficamos hospedados) ficou em torno de R$ 15.
Importante | Todos os valores deste post são de abril de 2017.
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Fotos: Sílvia Oliveira | Todos os direitos reservados. ©
Eita, eis que finalmente encontro alguém que tenha tido a mesma impressão que eu!
Fui no Eataly no ano passado, e a idéia era conhecer mesmo, de tanto que falaram. Talvez esse tenha sido uma razão da minha impressão: cheguei lá com expectativas altíssimas, e saí meio “mais ou menos”.
Concordo com você em tudo em relação a loja em si: os produtos são interessantes, a organização da loja é de muito bom gosto, as prateleiras abrem o apetite. Mas achei tudo muito, exageradamente caro. Mesmo sendo São Paulo. Aliás, especialmente sendo São Paulo, uma cidade cheia de bairros italianos verdadeiramente deliciosos e que devem oferecer as mesmas delícias, só que sem os nomes pomposos. Mas eu não acho que essa sensação deva ser apenas “muquiranice nossa”: não vejo problema em pagar caro por algo que me marque verdadeiramente, mas no Eataly eu tinha sempre a sensação de estar pagando só pela marca.
Fomos comer num restaurante dali também, e saí com a mesma sensação que a sua: a comida era cara, pouca, e não me impressionou. Nem a comida, nem a experiência: no dia que eu fui estava cheio, então eram mesinhas apertadinhas, fila para comer, barulho… Nada contra, veja bem: como assim super tranquila e feliz em qualquer feira livre de rua, food truck de pracinha ou festa junina de igreja. Mas pagar caro por uma comida que não me impressionou, eu esperaria ao menos que eu estivesse pagando pelo ambiente, pela experiência, e nem isso foi maravilhoso.
Pode ser ranzinzice minha. Confesso. E fiquei curiosa de ter conhecido esse Brace – pode ser que comendo lá minhas memórias com o Eataly fossem totalmente diferentes.
E concordo com você que a parte de sobremesas é uma coisa de outro mundo. Foram elas que justificaram totalmente a minha ida ao Eataly! 🙂
Ufa, ainda bem que o primeiro comentário não foi me escrachando. Hahahaha! Aliás, percebo que muita gente compartilha da nossa opinião, mas não tem coragem de expressar, uma vez que a mídia (e o marketing do local) fazem crer que vale muito a pena gastar metade de um salário mínimo num jantar apenas razoável. Pronto, agora podem vir as pedradas, já estou mais preparada! 😀
Bravos pelo post e sinceridade!
Já fui no Brace e te adianto que não compensa. Fui para jantar, então ja não tinha nenhuma promoção ou cardápio fechado mais em conta. Achei muito caro para comida bem ok, pedimos a carta de vinho e não tinha nada por menos de R$ 150,00 (nem taça individual). O garçom ficou 15 minutos tentando nos empurrar uma garrafa de R$ 400,00, quando não aceitamos, fechou a cara porque deve ter pensado que nós eramos muquiranas também e ficou a noite inteira nos tratando com um serviço péssimo. Não quis voltar pra ter uma nova experiencia e também não recomendo pra ninguém, mas eu adoro ir no Eataly em si e comer um doce depois do almoço 🙂