A viagem de volta
Não existe lugar tão acolhedor quanto a nossa casa. Mesmo assim, o retorno de uma viagem muito sonhada acaba sendo o momento ignorante do passeio.
A volta costuma ser um choque anafilático.
Quase sempre vem junto com uma leve depressão – ou uma gripe forte – e tudo se agrava quando você confirma todos os voos finais. Tudo conspira contra na volta!
Na ida, se você vai de São Paulo a Berlim, com escala em Londres, essa paradinha estratégica trata-se de “conexão internacional”. Na volta, o mesmo trajeto passa a ser chamado de pinga-pinga.
Na ida, a classe econômica é quase uma executiva. Parece ter mais espaço, o banco reclina mais e as aeromoças são mais simpáticas. Até a comida do avião é maneira. Já na volta parece que estamos em um teco-teco, sem classe nenhuma e toda pergunta dos comissários tipo “água ou café?” chega a ser uma grosseria.
Se no começo da odisseia eu era a desbravadora de mundos agora sou um ser secundário, sem dinheiro, reduzido à insignificante figura de um viajante com uma mala cheia de roupa suja voltando para casa.
Ao embarcar para o novo destino, o tiozinho da alfândega é sempre nosso camarada. Conhecido de muitos check-ins. A gente só mostra o passaporte e escuta a sonora sinfonia “boa viagem!”.
Na volta, ele se transforma no homem do saco que, com certeza, vai revistar minha mala e perguntar em tom ríspido o que vou fazer com tanto azeite de oliva na bagagem.
A volta é como queimar a língua. Prender o dedo na porta. Bater o cotovelo na quina. É como nariz entupido. Torcicolo. Funciona como o fim de um caso de amor.
A volta de uma viagem nos obriga a passar por várias fases, entre elas a negação. Eu olho aquela mala no meio da sala esperando para ser desfeita e passo por cima, finjo que nem é comigo.
Depois de muita negociação interna você realmente entende que as férias acabaram, que a mala precisa ser desfeita e que você, finalmente, vai retomar a sua rotina.
Mas a fase de aceitação só chega mesmo quando você começa a planejar… a próxima partida.
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Foto: Mantas Hesthaven | Unsplash.com
Excelente!!!! A volta sempre é mais sofrida mesmo, mas planejar o novo destino é tudo de bom!
ai a volta, a volta… eu fico em denial completo. Depois custa viver o presente de tanto que planejo a próxima!
Hahahaha, é desse jeitinho mesmo!!! Adorei!
Muito bom seu texto, expressa com precisão o sentimento da volta e a alegria de retomar o cotidiano, reencontrar suas coisas.
beijo,
vera
Também adorei a analogia da volta com “o fim de um caso de amor, ” hahaha! 🙂